Servimos bem para servir sempre

novembro 16, 2010

Durante o almoço, com uns colegas do trabalho, uma daquelas boas conversas bem flexíveis, à vontade, chegou ao tema da comida.

O que me chamou a atenção não foi nenhuma novidade que me contaram, nenhuma história diferente. Foi o número de pessoas que gostam de cozinhar. Já perdi a noção de quantas vezes ouvi Ah, eu largaria tudo pra abrir um café, restaurante, barzinho…

Acredito que esse comportamento é resultado menos da insatisfação do trabalho do que o próprio desejo de servir alimentos.

Parênteses para explicar o que há por trás do lado técnico disso tudo.

O ato de servir ou atender a um visitante ou cliente (seja um cafezinho, um escargot, ou qualquer outro tipo de serviço que não o alimentício) requer um preparo e atenção especial. Não é qualquer um que sabe servir. Ora exige classe, ora paciência, ora bom humor…


Abrir uma lanchonete como negócio próprio, não se iluda, exige uma responsabilidade enorme. Cuidado com os produtos, desde a escolha do fornecedor, passando pelo armazenamento, até o momento de entregá-lo ao cliente em sua mesa, com a higiene dos funcionários e do local, e outras responsabilidades comuns a qualquer estabelecimento.

Fechando os parênteses, voltando à observação: quando se expressa esse tipo de desejo de mudar de vida, não se pesa todo o revés da situação. O sentimento que predomina é o de fazer o bem e ser reconhecido por tal. É bem mais simples do que parece, porém, inconsciente.

Encare os atos de comer e beber como íntimos e sagrados. Ingerir substâncias que farão parte da composição do seu corpo não é algo que requer total responsabilidade? O único bem que realmente nos pertence em vida é o corpo, e somos os mais apropriados para dizer com o que devemos ou não, alimentar nossa vida. Comer é admitir um alimento para dentro de si.

Quer maior satisfação do que ser o responsável pelo alimento ingerido por outras pessoas? Servir, em gastronomia, significaria a, nesta analogia, dar vida a um corpo. É quase um sentimento paterno/materno e, portanto, primitivo.

Não que, por ser primitivo, seja instintivo e consequentemente fácil. Servir, mesmo sem a “arte” de servir, é um ofício que requer, repito, pré-requisitos.

Obrigado. Volte sempre.