Duas dimensões: tempo e espaço

fevereiro 2, 2011

Mãe: Filha, veja esta foto. É de 62. São o seu pai com os amigos. Dá pra ver qual deles é seu pai?

Filha: Deve ser esse, pelo corte de cabelo.

Pai: É, sou eu mesmo.

Filha: Não mudou nada, hein pai?

Há uma imensa satisfação em olhar uma foto antiga e poder contar uma história. Talvez várias. Quem sabe contar sobre como as coisas funcionavam no passado. Quem era o cantor mais famoso da época, o prefeito que aprovou uma lei muito importante, como foi a chegada da televisão no país, qualquer coisa assim.

Até agora, resgatando material do passado, seja em jornais, revistas, fotos, filmes ou vídeos caseiros, temos a noção da época de origem das coisas. Agora imagino meus descendentes, quando olharem uma foto de minha época, que ficou salva em algum pen drive ou está em um site meu, de amigos, como reagirão? As fotos não sofrerão envelhecimento. Agora tudo é digital. Onde ficará a noção de tempo? Talves devêssemos nomear as fotos com datas para que não se esquecessem.

Afinal, a mudança foi para melhor? Acho que não. Se você já mandou revelar uma dessas fotos tiradas em câmeras de 3, 4 ou 7 megapixel, olhe-a bem de perto. Por melhor que seja a definição, dá pra ver os quadradinhos – os famosos pixels – formando a imagem. O rosto das pessoas tem um pouco daquele “serrilhado”.

O filme de prata era bem melhor para as fotos de férias, casuais. Existem câmeras digitais profissionais, que são usadas para fotos publicitárias, e tais fotos são impressas em gráficas também profissionais, e tudo fica bonito de novo. A tecnologia da foto digital, aplicada aos produtores de imagem, foi um largo passo adiante. Mas o conceito devia ter parado por aí. Para o uso popular, é só um “fogo de palha” e grandes companhias querendo vender muito.

Adicione o fato de que o digital permite aprovar a foto antes de lavá-la a uma “revelação” (que deve se chamar “impressão”), o usuário sai por aí capturando tudo que é imagem, e deixa só o que achou bom. A preparação da foto perdeu o valor. Aprendi que um dos valores da fotografia era registrar um momento específico e garantí-lo para sempre. Agora tem dois, três, vários momentos pra escolher.

Os cinéticos

Em uma TV widescreen de 32 polegadas, se você assiste a TV aberta ou por assinatura, que seja na resolução convencional, tudo fica cheio de borrões e quadradinhos. Assisti a uma TV de tubo de 20 polegadas exibindo o mesmo conteúdo, e tudo estava perfeito. Também já vi uma outra com um tubo tela um pouco maior, e o resultado era bem mais satisfatório do que os aparelhos magrelas que temos hoje. Note que não estou tratando de HD. O dia em que HD for para todos, será estabelecido como um padrão, e então deverá receber o nome de SD (Standard Definition)

E os filmes? Hoje tudo é produzido em alta definição, mas haverá um limite? Sim, o dos nossos olhos. Haverá uma tela tão grande e tão cheia de leds, que não conseguiremos olhá-la por inteiro de uma vez, mas por partes. Assisto em cima, depois mais para baixo, aí inclino para a esquerda, mas a tela inteira, não poderei ver.

Em uma discussão sobre o conceito do 3D, Walter Murch deixa sua posição clara. “…a good story will give you more dimensionality than you can ever cope with…”


Por que ouço rádio?

outubro 5, 2010

Precisamos ter uma fonte de informação. Essa informação tem, numa divisão simples que acabei de imaginar, corpo (meio de comunicação) e alma (diretriz da emissora ou editora).

Prefiro o “corpo” rádio. Pode ser ouvido em qualquer lugar se você tiver um rádio portátil, mp4 ou celular. Não precisa ficar olhando para o aparelho, e pode fazer outras coisas paralelamente. O rádio é bem mais rápido, já que a notícia chega ao locutor, e basta que seja lida. Na TV é preciso o terno, a gravata, penteado, maquilagem, e só se interrompe um programa se a notícia tiver caráter de emergência ou nacional. O rádio pode, a qualquer momento, abrir um espaço na programação com um comentário, um gancho a partir do assunto da hora pula para a notícia urgente sem causar tensão.

A internet tem o feedback (comunicação de retorno dos clientes ou espectadores) mais veloz. Basta apenas clicar em “comentar” e deixar sua opinião para que todos a vejam. O problema é a poluição de feedbacks sem sentido, sem opinião concreta, de usuários que não têm comprometimento com a língua portuguesa ou que comentam sem ter conhecimento de causa nenhum, interferindo na discussão sadia. Até nisso o rádio leva vantagem, pois possui um feedback não tão veloz quanto eficiente, já que os produtores filtram as mensagens recebidas, escolhem as mais importantes, ou uma que represente a maioria, para ser lida no ar, sejam reclamações ou congratulações à emissora.

É preciso escolher de onde virá sua informação (alma). Sabemos que os meios de comunicação podem ou não ser tendenciosos, manipular a informação, ou a maneira como ela é oferecida. Se você vai escolher seu principal meio de informação, procure avaliar os concorrentes, acompanhando por um tempo um pouco de cada um, e assim poder avaliar melhor a credibilidade dos repórteres, a qualidade dos editoriais, a seleção de notícias e se aquilo é o que você considera importante. Assim pode escolher com segurança seu telejornal preferido, seu jornal de toda manhã na banca ou o programa que você vai ouvir no carro/ônibus, indo para o trabalho.

Pesquise o corporativo (apresentador, colunista, editor-chefe, patrocinadores) e o passado do seu centro de informação. Verifique se ele muda de opinião com freqüência. Mudar de opinião não é obrigatoriamente negativo, desde que justifique-se a mudança, apresentando argumentos.

Conselho final: tenha um meio de informação principal, e um outro secundário como referência para confirmar informações e fontes. Assim você não corre o risco de assumir ou repassar uma informação equivocada. Particular: costumo acompanhar o rádio, e confirmar detalhes em jornais ou internet.